A manhã encerrou em clima de união. A primeira e a segunda mesas do dia trouxeram foco na biodiversidade, nos saberes e nos talentos locais e de caminhos para um futuro possível. Como mudar o jogo rumo ao desenvolvimento sustentável e à justiça social?
O 4º Fórum Circular Patrimônio, Clima e Sustentabilidade segue hoje, dia 31, na Casa da Linguagem, até 18h, encerrando com programação musical, no Palco Renner, na Praça do Carmo.
A sociedade se acostumou a ver a periferia como sinônimo de problemas e falta de oportunidade, mas há muita potencialidade e muita ação vinda desses territórios, expressou a arquiteta e urbanista Taynara Gomes para apresentar a primeira mesa de debates do 4º Fórum Circular: “A periferia como o lugar ancestral que movimenta o presente e sonha o futuro”. “A periferia precisa ser vista como potência e isso virar política pública”, disse a arquiteta.
A partilha feita pelas quatro participantes desta mesa deixou isso bem claro. No palco da Casa da Linguagem, se encontraram a empreendedora Maynara Santana, membro de um negócio familiar em torno da cerâmica em Icoaraci; a mobilizadora cultural Suane Barreirinhas, atuando na comunidade da Vila da Barca, no Telégrafo; a educadora popular Joana Menezes, defensora do direito de pessoas em vulnerabilidade social, especialmente no Centro Histórico, e a artivista Silvana Palha, que une arte e educação ambiental em projetos de bioconstrução.
Como apontou Taynara, as histórias se cruzam em uma constatação: as comunidades têm soluções para os seus problemas e precisam ser ouvidas e respeitadas nas tomadas de decisão sobre seus próprios territórios.
Exemplos disso foram pontuados por Suane Barreirinhas: “Se a gente voltar para os anos 1980, a Vila da Barca só saía nas páginas policiais dos jornais. Agora vamos sair numa reportagem da ‘Valor Econômico’ e no ‘Jornal Nacional’ falando sobre economia na comunidade’, comemora, lembrando também que foi a força comunitária que fez com que a ocupação às margens da Baía do Guajará tivesse seu próprio posto de saúde.
“As mulheres foram lá e exigiram. Tem o posto do Telégrafo e o posto da Vila da Barca. Temos nossa própria revista também, e são os moradores que fazem as matérias, fotografam, editam”, destacou.
Articular diferentes vozes também pode ser desafiador. Moradora da Campina há 25 anos e assistente social por formação, Joana Menezes se uniu à luta de pessoas vulnerabilizadas, como a população em situação de rua e profissionais do sexo, muitas vezes que acabam sendo tratadas como a periferia invisibilizada dentro do contexto diverso do Centro Histórico. “Essas populações nas ruas estão mais expostas às alterações do clima”, pontua.
Por sua vez, Silvana Palha, contou como a percepção sobre o problema do lixo fez surgir as pesquisas que levaram à Casa Laboratório em que ela vive em Santa Bárbara, na região metropolitana de Belém. “Quando vão em casa, me perguntam onde fica o lixo. Não existe essa palavra lá. Tudo é aproveitado, vira adubo para o telhado verde, vira ecotijolo…”
Achando soluções nos saberes locais
Segundo a arquiteta Carol Miranda, o engajamento de Silvana Palha “é uma inspiração” para a Prana Tropical, empresa em que ela desenvolve projetos construtivos afinados com o conceito de sustentabilidade, cujo trabalho ela apresentou durante a mesa-redonda que reuniu experiências do mercado afinadas com práticas ambientalmente responsáveis.
Carol destacou a importância de construções afinadas com as características e materiais locais, assim como da valorização dos saberes tradicionais da arquitetura vernacular. “A gente faz todos os cálculos, mas a experiência, o conhecimento dessas pessoas conta muito.”
Assim como ocorre com o casal Charles e Iracema, da Ygara Artesanal & Turismo, na ilha do Combu. “Nós começamos a partir de uma necessidade, quando meu marido ficou doente e pensamos como a gente ia manter a família. Ele era operador de motosserra. Como a gente diz, tudo o que acontece é para melhorar. A gente foi trazendo o que sabia, fomos buscando aprender outras coisas e agora podemos deixar um legado para a família e para a ilha. O que a gente vende, são mais do que produtos, são histórias”, conta Iracema.

Da mesma forma é essa relação com o local que permeia o desenvolvimento da Assobio, rede de pequenos e médios negócios baseados na bioeconomia amazônica, apresentada por Paulo Reis.
Para o empreendedor, a estratégia para a bioeconomia da Amazônia está em um ajuste de escala, que pode ser de pequenos e médios negócios, pequenas produções, mas com grande diversidade. Também em ajustar o foco do que temos de maior riqueza.
“Não dá para pensar em uma bioeconomia focada nos produtos, nos ingredientes, porque uma hora eles vão chegar em outros lugares, como por exemplo, a manga, que não é daqui, veio para cá. Precisa ser uma bioeconomia focada em mentes.” Paulo Reis.
Para Kamila Garantizado, especialista em sustentabilidade da Renner S.A., forjar uma experiência de mercado responsável ambientalmente necessita de compromisso, algo que a empresa, patrocinadora desta edição do Fórum, vem construindo junto à sua rede de fornecedores, com princípios como matéria-prima 100% certificada, modos de produção ecológicos, circularidade e pagamento justo.
“A Renner é a maior varejista do Brasil, e entendo que é importante agregar o debate sobre sustentabilidade do ponto de vista de uma grande empresa, já que a gente está falando de adaptabilidade, e a gente tem que falar de negócios adaptáveis, desde os pequenos aos maiores. Quando a gente fala de uma grande empresa se adaptando, a gente está falando que a gente está adaptando o nosso capital, o nosso entendimento de recurso e isso passa por toda a adaptação climática que a gente precisa fazer”, disse.
Serviço
O 4º Fórum Circular Campina Cidade Velha segue nesta sexta-feira, 31, na Casa da Linguagem, com patrocínio da Lojas Renner e apoio da Fundação Cultural do Pará, via Casa da Linguagem, e UFPA, via Fórum Landi e ICA – Instituto de Ciências da Arte. Após os debates, o encerramento da programação será a partir das 18h,no Palco Renner, na Praça do Carmo.
Texto: Aline Monteiro
Edição: Luciana Medeiros
Fotos: Aryanne Almeida