Circular no debate sobre os desafios do CHB na COP30

No último dia 23 de abril, o Projeto Circular participou da mesa-redonda “Centro Histórico de Belém no Caminho da COP30: Dilemas e Perspectivas”, realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA), dentro da programação do seminário “No meio do caminho tinha uma COP: nunca esqueceremos desse acontecimento?”, coordenado pela professora Olga Lúcia Castreghini de Freitas.

Em meio aos olhares voltados para a preparação da cidade para sediar a Conferência do Clima da ONU em 2025, a mesa revelou que, no centro das discussões, está muito mais do que obras ou fachadas: está o direito de existir, permanecer e transformar o território.

Convidada pela professora Goretti Tavares para compor o debate, a coordenadora do Projeto Circular, Adelaide Oliveira, reforçou o que a prática já demonstra há mais de uma década: o centro histórico de Belém é um território vivo, ativo e dinâmico, que se reinventa a partir de seus próprios agentes culturais, pequenos empreendedores e moradores tradicionais.

Ela ressaltou que revitalizar o centro histórico não pode ser apenas pintar fachadas para receber turistas. É preciso garantir políticas públicas que sustentem a permanência de quem mantém o território pulsante todos os dias, com trabalho, arte, gastronomia e afetos.

Adelaide relembrou que a luta pela valorização do centro histórico de Belém não começou agora, às vésperas da COP30. Pelo contrário: “Enquanto governos vêm e vão, enquanto promessas são feitas e esquecidas, quem ocupa, movimenta e transforma esse território somos nós: os artistas, os pequenos empreendedores, os coletivos culturais e os moradores”, afirmou.

E destacou que o Circular, desde 2013, promove atividades culturais regulares no centro, é prova concreta de que a cidade já tem iniciativas de revitalização — feitas a partir da cultura, da economia criativa e do pertencimento. A gestora enfatizou que ações como o Circular e o Circuitinho, de educação patrimonial para crianças, mudaram a forma como muita gente passou a olhar para os bairros históricos da cidade.

“Nós não estamos esperando a COP para trabalhar. Estamos há anos construindo alternativas reais de vida e renda. O que falta é que o poder público reconheça e fortaleça essas iniciativas.” Adelaide Oliveira.

Foto: Divulgação do evento/UFPA

Tensionando o discurso oficial

As falas institucionais que abriram a mesa refletiram o desafio de conciliar a pressa das obras com a preservação da memória e dos modos de vida locais. A superintendente do Iphan no Pará, Cristina Vasconcelos, destacou o esforço de proteger o patrimônio em meio às obras aceleradas. A secretária de Cultura, Úrsula Vidal, reconheceu que “não basta revitalizar para os olhos estrangeiros” e apontou que a COP30 representa uma “janela geracional” para Belém.

Entretanto, foi nas perguntas vindas da plateia — e nas respostas tensionadas — que ficou evidente o abismo entre o discurso oficial e as urgências concretas do território. Pesquisadores, moradores e agentes culturais questionaram:

  • A ausência de políticas públicas efetivas para a população em situação de rua, especialmente no centro histórico.
  • O risco da gentrificação invisível, que pode expulsar silenciosamente comunidades tradicionais.
  • A falta de governança integrada e de transparência nas decisões sobre as obras e seus impactos sociais.
  • A preocupação de que o legado da COP30 se limite a uma estética urbana, sem transformações estruturais reais.
  • Essas provocações trouxeram para o centro do debate o que o Circular vive na prática: o centro histórico já é um espaço de resistência e criação, e precisa ser reconhecido e fortalecido — não remodelado apenas para atender aos olhos externos.

A cidade como território vivo

Foto: Divulgação do evento/UFPA

A professora e arquiteta Roberta Rodrigues reforçou essa visão ao afirmar que o patrimônio não se resume às edificações, mas também às práticas sociais que dão vida ao centro. Ela alertou para a pressão fundiária e os processos de exclusão que tendem a se intensificar com a valorização acelerada da área.

“O centro histórico é uma malha viva, feita de pessoas, relações e práticas cotidianas.” Roberta Rodrigues

O empresário Fábio Lúcio Costa trouxe a perspectiva do setor produtivo, defendendo que Belém precisa enfrentar o desafio com otimismo, mas também reconhecendo que o sucesso da COP30 dependerá da capacidade de criar espaços reais de participação e protagonismo local.

Para o Projeto Circular, o verdadeiro legado que Belém deve construir vai além da estética em obras monumentais. Ele passa pela consolidação de políticas públicas que garantam o direito à cidade para quem a sustenta cultural e economicamente.

A COP30 é uma oportunidade. Mas o futuro do centro histórico se constrói é no presente — com quem nunca deixou de estar aqui.

O debate completo pode ser assistido no YouTube, no link oficial da transmissão:

https://www.youtube.com/watch?v=pWL3YPY7f3A&t=1747s

(Texto: Luciana Medeiros)

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