Quem quiser que venha ver, mas só um de cada vez…

Foto: Aryanne Almeida

Um debate apaixonado marcou a mesa “Cidades, Turismo e Impactos Ambientais”, no primeiro dia do 4º Fórum Circular, a partir de uma provocação: qual é o turismo que queremos? O tema, claro, trouxe consigo o contexto da realização da COP-30 em Belém, impactos e perspectivas para o futuro a partir disso.

“Tudo o que as pessoas vinham me dizer era que eu ia ficar rica. Também venderam isso pra vocês?”, brincou Raquel Ferreira, CEO da Monotour, empresa especializada em experiências de turismo comunitário. “A verdade é que a COP não foi divulgada para ninguém falando da importância da pauta que ela traz, mas como um grande evento que ia trazer oportunidades. Só que ainda assim, nós temos que nos apropriar e fazer parte desses debates completou.

Especialistas e empreendedores num debate  sobre os limites para um turismo sustentável em Belém e os impactos que ficarão pós COP-30. 

Para a geógrafa e pesquisadora da UFPA, Maria Augusta Freitas, o caminho é inevitável se a intenção é transformar Belém em um destino global. “Não existe cidade global sem grandes eventos, é um fato”.

Também pesquisadora da UFPA, a turismóloga Ágila Fernandes, refletiu sobre dados preocupantes dos primeiros impactos da realização da Conferência das Nações Unidas em Belém sobre o setor do turismo.

“Falava-se em aumento de emprego, mas estamos vendo ainda uma informalidade muito grande. Ao mesmo tempo, há um aumento grande sobre os valores de aluguéis e a forma como os algoritmos das plataformas de hospedagem funcionam – inclusive eles estão sendo usados como medida para muitos investidores para saber áreas mais interessantes do ponto de vista turístico -, nos faz questionar: será que moradia está virando commoditie?”

Para Raquel, importante é também saber se as populações querem esse turismo de massa, dando como exemplo a situação de Jericoacoara, no Ceará, cuja comunidade hoje protesta contra os avanços do turismo predatório.  “A gente tem que se perguntar para quem serve o turismo”.

Ágila Fernandes – pesquisadora da UFPA, turismóloga . Foto: Aryanne Almeida

O paralelo imediato veio com a comunidade do Combu, onde a exploração turística tem crescido de forma exponencial. Empreendedora no eco restaurante Saldosa Maloca, negócio de família iniciado nos anos 1980, um dos primeiros no Combu, Prazeres Quaresma fala dos desafios de gerir os impactos desse turismo, por exemplo, na produção de lixo na ilha. E diz que tem sido um processo contínuo envolver a comunidade nesse tipo de debate.

“Minha família vive no Combu desde 1914. Com meus pais, a nossa casa era como se fosse a casa de fim de semana dos parentes que moravam em Belém. O restaurante surgiu porque as pessoas batiam à nossa porta. Não tinha nada na ilha, e as pessoas que passeavam de lancha paravam em busca de comida ou para usar o banheiro. Hoje são muitos restaurantes e a gente lida com o problema do lixo. Antes, as pessoas compravam dos pescadores locais, traziam o peixe, a carne embrulhado em folhas, era normal. Aí o plástico chegou sem elas nem perceberem, e não foram orientadas para isso. Hoje, apesar de ter barco que passa três vezes por semana, tem gente que joga lixo no rio.”

Cilene Sabino, titular da SEMCULT – Secretaria de Cultura e Turismo de Belém. Foto: Aryanne Almeida

Presente à mesa, a secretária de Cultura e Turismo de Belém, Cilene Sabino, destacou que o Município está focado em desenvolver iniciativas de base comunitária, em parceria com os agentes culturais nos bairros para criar roteiros turísticos – citou como exemplo a Ilha de Carataeua (Outeiro).

“Estive lá pessoalmente, muito próximo deles, em reuniões, para desenvolver isso”, disse Cilene, que ainda destacou ações como a lei municipal, sugerida pela Semcult, que torna Belém “Capital da Fé”. “A cultura do povo paraense é muito ligada a esse sentido da fé, mas ainda não tínhamos esse título”.

Após sua apresentação, a secretária pediu desculpas e saiu sem ouvir as perguntas da plateia ou das demais convidadas para o debate. Em um compromisso urgente em Mosqueiro, se retirou logo após sua fala.

O 4º Fórum Circular Campina Cidade Velha segue nesta sexta-feira, 31, na Casa da Linguagem, com patrocínio da Lojas Renner e apoio da Fundação Cultural do Pará, via Casa da Linguagem, e UFPA, via Fórum Landi e ICA – Instituto de Ciências da Arte. Após os debates, o encerramento da programação será a partir das 18h,no Palco Renner, na Praça do Carmo.

Texto: Aline Monteiro

Edição: Luciana Medeiros

Fotos: Aryanne Almeida

3fbbcb_2139ead6475d4405927adf1dd9c5aa43~mv2

Demolição da Fábrica da Phebo é mistério

5 anos atrás

3fbbcb_adfb50536fc64f438797c73a9f70f7dc~mv2

IPHAN: prédios históricos abandonados

5 anos atrás

3fbbcb_7ffc773945ff4d6ea521a4bc563a83bd~mv2

Tem “Ô Mundica! – uma novela” sem fim no Circular

4 anos atrás

4edded_469331647d3f4b8f8d62959ee8af1fe6~mv2

Circuitos culturais e patrimoniais na 43ª edição

3 anos atrás

3fbbcb_e83012ac234a4284a721a98fe44c7c1f~mv2

Capela Pombo entre rachaduras e pesquisa

5 anos atrás

3fbbcb_a08d02427cc44a959a8a6cdd62db415c~mv2

Os 30 anos de uso do Mercado de São Brás

5 anos atrás

Assine nossa news e receba todas as novidades sobre o Projeto Circular