Obras do Solar da Beira trazem descobertas

Arquitetura eclética, com uma fachada em estilo neoclássico. O Solar da Beira nasce como Alfândega, em seguida, torna-se sede do Banco do Estado do Pará e da Junta Comercial.

Iniciadas em março do ano passado, a previsão de entrega das obras é para o início de setembro. A restauração do Solar da Beira consumiu quase três milhões de reais, oriundos, segundo a assessoria de imprensa da Seurb, do IPHAN/PAC Cidades Históricas e Banco do Brasil. Os recursos foram investidos na recuperação do telhado, troca de telhas, tratamento das calhas, com inclusão de manta térmica, reforma do sistema elétrico e dos pisos dos três pavimentos, além da nova iluminação externa.

“Para aterrar, eles traziam terras das lixeiras ao redor da cidade de Belém já que naquela época não tinha uma coleta de lixo como nos dias atuais. E esse material era levado para fazer o aterramento da região. Então, os materiais arqueológicos representam a cidade Belém, não necessariamente do uso do Solar da Beira”

Para que a obra fosse realizada, também foi necessário cumprir a legislação brasileira sobre as intervenções em áreas tombadas pelo patrimônio histórico, uma vez que o Solar da beira está localizado dentro do Complexo Arquitetônico e Paisagístico do Ver-o-Peso, que é tombado como patrimônio histórico.

Uma equipe especializada fez um levantamento arqueológico no local, acompanhando as aberturas do fosso do elevador e da cisterna, localizados nas partes internas e externas do prédio, respectivamente. Em quatro meses de trabalho foram encontrados cerca de dois mil fragmentos e peças inteiras no local.

“Nas cisternas foram encontradas garrafas de vidro do século 19 e 20, fragmentos de louças, peças portuguesas e espanholas, garrafas de grés”, completa Amanda Carolina de Souza Seabra, arqueóloga e antropóloga, responsável pelo trabalho. Ela explica que o material diz respeito à cidade de Belém do século 19 uma vez que a Boulevard Castilhos França é resultado de aterramento da região, realizado nos anos de 1848 e 49. É só lembrar que a travessa 15 de novembro era conhecida como a Rua da Praia.

“Para aterrar, eles traziam terras das lixeiras ao redor da cidade de Belém já que naquela época não tinha uma coleta de lixo como nos dias atuais. E esse material era levado para fazer o aterramento da região. Então, os materiais arqueológicos representam a cidade Belém, não necessariamente do uso do Solar da Beira”, explica a arqueóloga.

Depois de recolhidas e limpas, o material foi pré-analisado para receber uma datação prévia, a partir de algumas características como pintura e modo de produção. Agora, todo o material deve ser enviado para o Núcleo de Arqueologia, Etnologia e Educação Patrimonial (NAEEP) – Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM) – Prefeitura Municipal de Marabá, instituição que ficará responsável pela guarda do material.

A arqueóloga justifica que realizou consulta ao Museu Paraense Emílio Goeldi, ao Núcleo de Ensino e Pesquisa em Arqueologia (NPEA) – Laboratório Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo (LAANF), ao Sistemas Integrados de Museus (SIM) e ao Museu Histórico do Estado, e todas negaram o endosso institucional em razão da falta de espaço.

“Uma coisa é a pesquisa arqueológica feita pela academia e outra é a pesquisa feita durante essas obras de restauro. A gente trabalha com prazo muito pequeno e a gente tem que obter informações neste prazo. Para profundar a análise desse material é preciso de muito mais tempo”, completa Amanda Carolina.

Novos usos aos três andares restaurados

Arquitetura eclética, com uma fachada em estilo neoclássico. O Solar da Beira nasce como Alfândega, em seguida, torna-se sede do Banco do Estado do Pará e da Junta Comercial. Já na década de 1980 abrigou um restaurante e lojas de artesanato, mas estava há mais de uma década vivendo em situação de abandono.

Após as obras concluídas, o prédio será todo refrigerado e acessível com elevador interno – uma plataforma para o deslocamento de pessoas com necessidades especiais e idosos. A escolha da nova cor do prédio foi feita por um grupo de arquitetos que, com a anuência dos órgãos de preservação, optou por cores sóbrias em tom verde.

Os ladrilhos hidráulicos do mezanino foram restaurados, assim como as portas e janelas do prédio, que não têm registro do ano que foi construído, mas remonta ao final do século 19 e início do século 20, período de expansão da cidade.

“O térreo vai funcionar como área de exposição de artesanato e uma loja da Belemtur. No mezanino, vamos ter a parte administrativa do prédio que vai ficar sob a responsabilidade da Fumbel, além de um posto da Guarda Municipal. No terceiro pavimento, vai funcionar sala de exposições temporárias e de eventos”, explica Reinaldo Bentes Leite, diretor do Departamento de Obras e Serviços, da secretaria de Urbanismo do município, responsável pela obra.

Atualizado: 4 de jun. de 2021

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